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| Padre Fábio de Melo no momentos da transubstanciação |
Comparada aos dias de hoje, a sociedade feudal é reconhecida por uma mobilidade social bastante restrita. Em outras palavras, isso quer dizer que o indivíduo pertencente a uma determinada ordem acabaria se mantendo nela até o fim de sua vida. Dividia em três diferentes nichos, a sociedade dessa época está genericamente repartida entre clero, nobreza e servos. Do ponto de vista cultural, a estabilidade desse modelo de organização pode ser compreendida através do forte sentimento religioso da época. Segundo a pesquisa de historiadores do quilate de Georges Duby, a organização social da Idade Média era encarada como um desígnio divino que deveria ser passivamente seguido por todos os cristãos. Ir contra as desigualdades e a exploração dessa época significava afrontar uma harmonia proveniente dos céus.
O clero ocupava o topo dessa hierarquia social. Entre os fins da Antiguidade e início da Idade Média, a Igreja estruturou um conjunto de normas que permitiu a disseminação do cristianismo por todo o mundo europeu. Além disso, os membros dessa ordem tinham grande influência entre os grandes proprietários e reis desse período. Ao longo do tempo, a própria instituição acumulou terras e conhecimento em uma época em que a leitura e a escrita era privilégio de poucos.
No mundo medieval, o clero estabeleceu um processo de alargamento da sua influência entre as populações europeias. Por meio de uma organização centralizada e a determinação de seus dogmas, a Igreja Católica logo se difundiu pelos quatro cantos da Europa instituindo não apenas uma opção religiosa, mas a capacidade de orientar o comportamento de milhares de pessoas. Progressivamente, a consolidação de uma leitura religiosa do mundo acabou concedendo aos membros da Igreja a oportunidade de influir em vários aspectos da população medieval. O temor à figura divina, o desprezo pela vida terrena e a busca pela salvação espiritual foram se transformando em questões de natureza primordial. Além disso, lembrando que boa parte da população era iletrada, a imagem de santos e a disseminação de relíquias foram importantes para que o cristianismo ganhasse força. Sendo detentores de conhecimento e influindo no comportamento da época, a Igreja acabou assumindo papéis que extrapolavam a esfera religiosa. Ao longo do tempo, muitos fiéis deixavam parte de suas propriedades como sinal de devoção cristã. Além disso, a opinião de vários clérigos passou a influir na decisão dos reis e grandes proprietários de terra do período.
Durante toda a Idade Média (476-1491) a Igreja era detentora do saber e do conhecimento. Nesse quadro existia o Teocentrismo, filosofia ou doutrina que considera Deus o fundamento de toda a ordem no mundo. A própria organização da sociedade medieval (dividida em Clero, Nobres e Servos) era um reflexo da chamada Santíssima Trindade. Além de se destacar pela sua presença no campo das ideias, a Igreja também alcançou grande poder material. Durante toda a Idade Média ela passou a controlar grande parte dos territórios feudais (num contexto em que terra era sinônimo de riqueza!), se transformando em importante chave na manutenção e nas decisões do poder nobiliárquico.
O Historiador Leo Huberman, em sua obra História da Riqueza do Homem afirma:
“Enquanto os nobres dividiam suas propriedades, a fim de atrair simpatizantes, a Igreja adquiria mais e mais terras. Uma das razões por que se proibia o casamento aos padres era simplesmente porque os chefes da Igreja não desejavam perder quaisquer terras da Igreja mediante herança aos filhos de seus funcionários”.
Assim a Igreja Católica adota o celibato dos padres e freiras como um importante mecanismo de conservação do seu patrimônio. Ao contrário da nobreza – que tinha seus bens repartidos por heranças, casamentos, lutas pela posse da terra, etc. - a Igreja só acumulava riquezas, já que os bens não pertenciam aos religiosos, mas a instituição em si. Durante o papado de Gregório VII, a partir de 1537 – 20 anos depois da Reforma Protestante! – o celibato torna-se obrigatório para o clero, onde um sacerdote romano que se casasse incorria na excomunhão e ficava impedido de todas as funções espirituais. Essa nova característica da Igreja acabou promovendo uma divisão entre os membros integrantes da instituição. Em seu topo, observamos o clero regular como responsável pela discussão dos dogmas, a interferência em assuntos políticos e a administração dos bens acumulados pela Santa Sé. Logo abaixo, o clero secular era responsável por disseminar as medidas tomadas pelo corpo diretivo da Igreja e estabelecer o contato direto com os cristãos. Apesar de tanto poder, não podemos acreditar que a Igreja simplesmente se transformara em uma instituição inquestionável. Ao longo de toda a Idade Média, podemos observar a existência de situações de conflito entre membros do clérigo secular e os grandes senhores feudais. Além disso, os movimentos heréticos também atestavam que a crença nos dogmas católicos nunca fora absoluta.
A religiosidade era muito forte na Idade Média, e o cristianismo, por meio da Igreja Católica, era a única religião existente na Europa Ocidental. Isso fez com que a Igreja Medieval exercesse importantes papéis. Nesse sentido, o principal papel que a Igreja Medieval tinha era um papel moral, sendo a mediadora entre o divino e os seres humanos. Toda a vida cotidiana do mundo medieval girava em torno da Igreja, desde o nascimento da pessoa, quando era batizada, até a sua morte, quando recebia extrema-unção, e, dependendo das suas posses, missas poderiam ser realizadas em memória do falecido.
A Igreja Medieval também tinha importante papel na educação. Ela manteve diversas instituições de ensino durante a Idade Média, e boa parte dos professores do período eram membros do clero. Suas universidades e mosteiros possuíam a maior parte dos livros do período greco-romano. Além disso, a Igreja Medieval tinha grande papel na saúde e na assistência social, possuindo diversos orfanatos, asilos, leprosários e diversas outras instituições que faziam caridade, além de manter a maior parte dos hospitais do período e universidades, onde pesquisas eram realizadas.
Poder da Igreja Medieval
O maior poder da Igreja Medieval era o espiritual, a maior parte das pessoas do período temiam mais os tormentos do inferno do que os tormentos da vida ou mesmo a própria morte. A Igreja Católica era considerada a única que podia interpretar a Bíblia, sendo considerada, dessa forma, a própria a representante de Deus na Terra. Mesmo os reis se submetiam à autoridade do papa e da Igreja.
Outro grande poder da Igreja Medieval era o econômico. A Igreja Católica era responsável por recolher e administrar o dízimo, imposto que correspondia a 10% dos rendimentos de pessoas e instituições. Em diversos lugares da Europa o próprio reino pagava o dízimo para a Igreja. A Igreja Católica também possuía muitos terrenos e propriedades, como castelos e cidadelas. Estas eram doadas à Igreja, deixadas como herança em testamento ou adquiridas através da compra. A Igreja Medieval também tinha grande poder político, muitas vezes maior do que dos reis do período.

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